Campo Grande (MS), Quinta-feira, 21 de Agosto de 2025

TRÂNSITO

Dia Mundial Sem Carro: Campo Grande tem quase um veículo por habitante e enfrenta desafios na mobilidade sustentável

Cidade possui frota de mais de 666 mil veículos e enfrenta obstáculos para promover alternativas ao automóvel como transporte diário

22/09/2024

08:00

DA REDAÇÃO

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Neste domingo (22), comemora-se o Dia Mundial Sem Carro, data criada para incentivar a população a deixar os automóveis em casa e optar por transportes mais sustentáveis, como bicicletas, transporte coletivo e caminhadas. Em diversas cidades do mundo, como na Holanda, a diminuição do uso de carros é cada vez mais incentivada, com políticas de mobilidade urbana que priorizam o pedestre e o ciclista. Entretanto, em Campo Grande, a realidade ainda é bastante diferente, com um número significativo de veículos em circulação e dificuldades para promover alternativas ao uso diário do carro.

Frota de veículos x população

Segundo estimativas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Campo Grande possui 954.537 habitantes. Já a frota de veículos, de acordo com dados do Detran/MS (Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso do Sul), é composta por 666.279 veículos, sendo 329.438 automóveis de passeio. Em termos proporcionais, isso significa que há aproximadamente 0,69 veículo por habitante, ou seja, 3 em cada 10 moradores da capital sul-mato-grossense possuem um carro.

Essa elevada taxa de motorização reflete a dependência do carro como principal meio de transporte, o que gera impactos diretos no trânsito e no meio ambiente, como o aumento da emissão de poluentes e a sobrecarga da infraestrutura viária da cidade.

Barreiras para a redução do uso de carros

Entre os motivos que levam os campo-grandenses a optarem pelo uso do carro, um dos principais é a má qualidade do transporte coletivo. A superlotação dos ônibus, especialmente nos horários de pico, é uma reclamação constante entre os usuários. Além disso, a demora nas linhas e a falta de conforto desestimulam a população a utilizar o transporte público de maneira contínua.

Outro fator relevante é o clima quente da cidade, que desencoraja as pessoas a optarem por deslocamentos a pé ou de bicicleta. Campo Grande é conhecida por suas altas temperaturas, o que torna o uso de meios de transporte não motorizados um desafio para grande parte da população, que prefere o conforto do ar-condicionado dentro dos carros.

Bicicleta: Esporte ou meio de transporte?

Nos últimos anos, houve um aumento no número de ciclistas em Campo Grande, mas a maioria das pessoas ainda utiliza a bicicleta como meio de lazer e prática esportiva, e não como uma alternativa de transporte diário. Segundo Pedro Garcia, designer e integrante do coletivo Bici Nos Planos e conselheiro regional pela União de Ciclistas do Brasil, a bicicleta é, por excelência, um meio de locomoção, mas ainda não é vista dessa forma pela sociedade.

"É uma falácia achar que a bicicleta é só para lazer no fim de semana. Ela foi criada para ser um veículo, e, se utilizada corretamente, pode contribuir muito para a mobilidade urbana", afirmou Pedro. Ele também ressaltou a "dependência cultural" do carro em Campo Grande. "Aqui, até para ir ao supermercado que está a dois quarteirões, as pessoas preferem usar o carro. Já ouvi falar que uma caminhada de 15 minutos é considerada muito longa", exemplificou.

Desafios da malha cicloviária

Embora Campo Grande tenha uma malha cicloviária de cerca de 100 km, sua distribuição e integração ainda são deficientes. Muitas ciclovias não são interligadas, dificultando o uso da bicicleta para deslocamentos mais longos. Além disso, faltam infraestruturas de apoio, como bicicletários, paraciclos e pontos de apoio, que incentivariam a adesão ao uso da bicicleta como meio de transporte diário.

"A cidade tem ciclofaixas e ciclovias, mas falta uma estrutura completa. Precisamos de ciclo rotas que conectem diferentes regiões, e de paraciclos e bicicletários em locais estratégicos, como terminais de ônibus e centros comerciais", comentou Pedro Garcia.

Além disso, ele enfatiza a importância dos pontos de apoio para ciclistas, algo que é escasso na cidade. "Pontos de apoio são paradas para ciclistas, com bancos, bebedouros e ferramentas para pequenas manutenções. Em uma cidade quente como Campo Grande, isso seria fundamental", destacou. Atualmente, o único local com esse tipo de estrutura é o Parque dos Poderes, área destinada majoritariamente para lazer.

Incentivos para um transporte mais sustentável

Para que o Dia Mundial Sem Carro se torne mais que uma data simbólica em Campo Grande, é necessário que haja investimentos na infraestrutura de transporte público e ciclovias, além de campanhas de conscientização sobre a importância de reduzir o uso do carro para melhorar a qualidade do ar e o trânsito na cidade.

O transporte coletivo eficiente, seguro e confortável, associado a uma malha cicloviária bem planejada e integrada, pode ser uma alternativa viável para quem deseja deixar o carro na garagem. Além disso, com topografia plana e muita arborização, Campo Grande tem potencial para promover o uso de bicicletas como meio de transporte cotidiano, desde que as condições sejam favoráveis.

A Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito) foi procurada pela reportagem para comentar sobre possíveis ações voltadas para a melhoria do transporte e infraestrutura cicloviária, mas até o fechamento desta matéria, não houve resposta. O espaço permanece aberto para qualquer posicionamento ou atualização.

Conclusão

A alta dependência dos carros em Campo Grande ainda é uma realidade difícil de ser transformada, mas o Dia Mundial Sem Carro reforça a necessidade de refletirmos sobre nossas escolhas de mobilidade. Melhorias no transporte público, uma malha cicloviária interligada e campanhas de conscientização são essenciais para promover um futuro onde as pessoas possam optar por meios de transporte mais sustentáveis e acessíveis, contribuindo para a qualidade de vida de todos.

#jornaldoestadoms


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