Política / Justiça
Barroso encerra presidência do STF e diz que “perdão imediato é medida negativa”
Ministro faz balanço de dois anos no comando do Supremo e do CNJ, defende punição exemplar aos golpistas, reforma política e voto distrital misto
29/09/2025
11:00
DA REDAÇÃO
©DIVULGAÇÃO
O ministro Luís Roberto Barroso conclui, nesta segunda-feira (29), seu mandato de dois anos na presidência do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Em entrevista, ele afirmou que “perdão imediato é uma medida negativa”, ao comentar propostas de anistia ou redução casuística de penas relacionadas aos atos antidemocráticos. Para Barroso, julgamentos firmes rompem o ciclo histórico de golpes seguidos de anistias no país.
“Uma anistia imediata faria com que tudo o que passamos não tivesse valido a pena. O direito penal tem função de prevenção geral”, disse.
Contra anistia imediata: Barroso rechaça perdão que “afronte decisões do Supremo”, mas admite, em tese, ajustes técnicos de dosimetria debatidos mais adiante.
Unidade do STF: Relata que o tribunal se uniu em momentos críticos — pandemia, temas ambientais, defesa do sistema eletrônico de votação e enfrentamento a ataques à democracia.
Custo pessoal: Narra ameaças e constrangimentos, como cercos e hostilidades, que ampliaram o aparato de segurança dos ministros.
Reforma política: Defende voto distrital misto para aproximar eleitores e representantes e reduzir a centralidade do STF em temas que o Congresso deveria deliberar.
Populismo extremista: Critica a “captura do conservadorismo pelo extremismo”, fenômeno que, segundo ele, piorou a qualidade das democracias.
Barroso elenca decisões que considera estruturantes:
Responsabilidade de plataformas digitais com equilíbrio entre liberdade de expressão e proteção de direitos.
Descriminalização parcial do porte de drogas para enfrentar hiperencarceramento de primários.
Segurança pública no Rio e dever de retomar territórios dominados pelo crime, com controle da letalidade policial.
Execução imediata de decisões do júri, evitando cenas de impunidade.
Plano de dignidade mínima no sistema prisional.
Limites ao assédio judicial contra jornalistas.
Desintrusão de 10 terras indígenas com apoio institucional.
Parâmetros para judicialização da saúde (SUS e planos).
Exame Nacional da Magistratura (pré-requisito nacional para concursos), elevando padrão de qualidade.
Paridade de gênero nas promoções por merecimento nos 2º graus, rumo a 40% de participação feminina.
Ações afirmativas: manutenção de nota de corte diferente para candidatos negros, bolsas de preparação e resultados já observáveis em aprovações.
“Elevamos a qualidade do Judiciário, ampliamos a equidade de gênero e a diversidade racial. São mudanças com efeitos de médio e longo prazo.”
Barroso recorda a unanimidade do STF para:
Garantir planos de vacinação e competências de estados e municípios durante a Covid-19;
Destravar Fundo Amazônia e Fundo Clima;
Rejeitar voto impresso com contagem manual, que, segundo ele, alimentaria o ambiente para um golpe.
Sem entrar no mérito de casos específicos que não relatou, Barroso afirma que as penas aplicadas seguem a lei, e que cabe à execução penal ajustar prazos conforme regras gerais. Reitera que punir tentativas de golpe tem função exemplar: “Mostra que os ciclos do atraso ficaram para trás”.
Barroso diz que gostaria de ter contribuído mais para a pacificação, com debate qualificado entre correntes conservadoras, liberais e progressistas. Para ele, o Brasil avançou ao preservar a democracia sem ruptura institucional, mas ainda há “resíduos de raiva e ressentimento” no pós-8 de Janeiro.
Após deixar a presidência, o ministro afirma que fará retiro de silêncio (Brahma Kumaris) antes de decidir permanecer no STF ou seguir “outros caminhos” acadêmicos e filantrópicos. Disse pretender escrever e pensar o Brasil com mais liberdade, preservando a autocontenção exigida no cargo.
“Quero ser lembrado como alguém que procurou fazer o que é certo, justo e legítimo, com serenidade e propósito.”
Institucionais: consolidação de precedentes em liberdade de expressão, segurança pública, direitos indígenas e saúde.
Judiciário: padronização nacional para ingresso na magistratura, mais diversidade e paridade nas promoções.
Política: pressão por reforma que fortaleça o Parlamento, diminuindo a judicialização por omissão legislativa.
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