Política / Justiça
Ex-integrante do Ministério da Justiça afirma ao STF que suspeitou de pedidos sobre mapa eleitoral em 2022
Clebson Vieira diz ter visto habilidade técnica ser usada em decisão ilegal e relata temor sobre movimentação da PRF no segundo turno
19/05/2025
19:00
DA REDAÇÃO
©ARQUIVO
O analista de inteligência Clebson Ferreira de Paula Vieira, que atuava no Ministério da Justiça durante o governo de Jair Bolsonaro, afirmou nesta segunda-feira (19), em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), que suspeitou da intenção política por trás de pedidos feitos por superiores para mapear cidades onde Lula ou Bolsonaro tiveram mais de 70% dos votos no primeiro turno das eleições de 2022.
Vieira, ouvido como testemunha de acusação da Procuradoria-Geral da República (PGR) na ação penal que trata da trama golpista, revelou que as demandas partiram da então diretora de inteligência Marília Ferreira, ligada à equipe do ex-ministro Anderson Torres. Os pedidos incluíam análises sobre:
Cidades com forte concentração de votos para Lula ou Bolsonaro;
Distribuição de efetivo da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
“Imediatamente estranhei. Era uma época complicada. Eu diria que havia um viés cognitivo político. Tudo foi somando para um raciocínio de que o que aconteceu no dia do segundo turno, eu já sabia que ia acontecer”, declarou Vieira ao procurador-geral Paulo Gonet.
Segundo o analista, os dados produzidos por ele teriam sido utilizados para ações ilegais da PRF, que promoveu blitze direcionadas no dia da votação, especialmente em redutos petistas, dificultando o deslocamento de eleitores.
“Fiquei apavorado porque vi que uma habilidade técnica minha foi usada para uma decisão ilegal. Eu me preparei para que, no momento oportuno, eu pudesse falar”, relatou Vieira, que guardou toda a documentação.
O depoimento marca o início da fase de instrução no STF no processo que julga o núcleo central da tentativa de golpe de Estado articulada após a derrota de Bolsonaro em 2022. São réus no processo:
Jair Bolsonaro (ex-presidente);
Alexandre Ramagem (ex-chefe da Abin);
Almir Garnier (ex-comandante da Marinha);
Anderson Torres (ex-ministro da Justiça);
Augusto Heleno, Mauro Cid, Paulo Sérgio Nogueira e Braga Netto, todos ex-integrantes do governo.
Os crimes imputados incluem:
Organização criminosa armada
Tentativa de golpe de Estado
Abolição violenta do Estado Democrático de Direito
Dano qualificado ao patrimônio público
Deterioração de bem tombado
As penas máximas somadas ultrapassam 40 anos de prisão.
Além de Clebson, o STF também ouviu:
Adiel Pereira Alcântara, ex-coordenador da PRF, que confirmou que houve ordens superiores para fiscalização direcionada no segundo turno;
General Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, que foi advertido por Alexandre de Moraes por apresentar versões contraditórias à PF e ao STF sobre a minuta golpista;
Éder Lindsay Magalhães Balbino, ex-sócio da Gaio Innotech, empresa que produziu relatórios eleitorais contratados pelo PL.
A defesa de Jair Bolsonaro tentou adiar os depoimentos, alegando que a Polícia Federal não havia disponibilizado todas as provas até a última semana. O pedido foi negado, e o Supremo mantém o cronograma para dar celeridade ao julgamento antes do calendário eleitoral de 2026.
O ex-comandante da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Júnior, que também deporia nesta segunda-feira, teve seu depoimento adiado para quarta-feira (21), por estar fora do país.
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