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Mural do projeto tatu-canastra é pichado menos de 24 horas após finalização em viaduto de Campo Grande
Arte sobre a preservação de animais em extinção é danificada por ter encoberto grafite antigo
28/09/2024
08:50
CGN
DA REDAÇÃO
Obra do tatu-canastra e tamanduá-bandeira foi destruído nesta madrugada (Foto: Juliano Almeida)
Após quatro dias de trabalho intenso, o mural do projeto tatu-canastra, realizado pelo Icas (Instituto de Conservação de Animais Silvestres), foi pichado menos de 24 horas após ser finalizado. A obra, que enfeitava o viaduto Pedro Chaves dos Santos, no cruzamento da Rua Ceará com a Avenida Ricardo Brandão, em Campo Grande, retratava o tatu-canastra e o tamanduá-bandeira, dois animais em risco de extinção. O intuito era sensibilizar a população para a conservação dessas espécies.
Segundo o Icas, a arte foi destruída por ter encoberto um grafite antigo, datado de 2016, no local. O mural foi riscado com tinta branca, gerando indignação por parte do instituto e do artista responsável pela obra.
A página "Campão Graffiti", que não reivindicou a autoria do ato de vandalismo, repostou uma imagem do mural pichado e destacou o descontentamento da comunidade de grafiteiros. Em uma publicação, o grupo manifestou a insatisfação de ver suas obras encobertas por outros projetos, afirmando que isso representava uma falta de respeito com a cultura local.
"Por anos lutamos por espaço e falta de interpretação da sociedade para preservar nossa história, apenas para ser apagada por uma nova obra", dizia o texto da publicação, que foi removida posteriormente.
Em resposta à destruição do mural, a página "Campão Graffiti" reforçou que não apoia o vandalismo e que apenas republica conteúdos relacionados ao grafite em Campo Grande. "Recebemos essa mensagem de forma anônima e divulgamos, como fazemos com todo tipo de graffiti da cidade e do estado", explicou um dos administradores da página, San Martinez, em entrevista ao Campo Grande News.
O Icas, que financiou e idealizou o projeto, lamentou profundamente o ocorrido e ressaltou que seguiu todos os protocolos ao realizar o mural. Segundo o instituto, o objetivo era destacar a importância da preservação do tatu-canastra e do tamanduá-bandeira, e a escolha do artista foi baseada em sua experiência com a fauna brasileira.
"Nós respeitamos e valorizamos o movimento da arte urbana e, em nenhum momento, nossa intenção foi apagar ou sobrepor a história de qualquer artista local", declarou o Icas em nota. O instituto também destacou que entrou em contato com a Prefeitura de Campo Grande antes de iniciar o projeto e que o órgão responsável pela gestão do viaduto havia sinalizado a intenção de revitalizar o local.
A destruição do mural gerou críticas e ataques nas redes sociais ao artista que realizou a obra. O Icas defendeu o profissional e enfatizou que o objetivo do projeto era conscientizar a população sobre a importância de preservar as espécies ameaçadas de extinção.
"O projeto foi concebido com o apoio de pessoas que acreditam em nossa causa de conservação", reiterou o instituto, afirmando que está aberto ao diálogo com os artistas locais para buscar soluções e fortalecer a cultura regional.
O caso evidenciou um conflito entre a preservação da arte urbana e a renovação de espaços públicos. A página "Campão Graffiti" havia informado o Icas anteriormente sobre o descontentamento em relação à cobertura das gravuras antigas. "Já havíamos enviado um projeto para aquele local, mas não fomos ouvidos", declarou um dos administradores.
A tensão entre a valorização do grafite existente e a introdução de novas intervenções artísticas em espaços públicos continua sendo uma questão delicada na cidade, refletindo o desafio de equilibrar preservação cultural e inovação.
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