Campo Grande (MS), Quinta-feira, 04 de Dezembro de 2025

Economia / Correios

Correios fecham mais uma agência em Campo Grande por falta de recursos

Unidade da Avenida Mascarenhas de Moraes será desativada; estatal acumula dívidas, negocia empréstimo bilionário e mantém concursados sem convocação

04/12/2025

11:00

DA REDAÇÃO

Agência localizada em complexo de lojas na Avenida Mascarenha de Moraes que será fechada ©Paulo Francis

A crise financeira que atinge os Correios em todo o país provocará o fechamento de mais uma agência em Campo Grande. A unidade localizada na Avenida Mascarenhas de Moraes será desativada nos próximos dias por falta de pagamento do aluguel e ausência de orçamento para renovar o contrato, já vencido. A informação foi confirmada pelo presidente do SINTECT-MS, Wilton dos Santos Lopes.

Segundo o dirigente sindical, o encerramento das atividades ocorre porque o proprietário do imóvel se recusou a manter a locação diante dos atrasos.
“O aluguel estava atrasado, não havia orçamento para renovar e o contrato venceu. O locatário não quis manter, e a superintendência também não tinha verba. Por isso, foi feito um fechamento provisório, com previsão de buscar nova locação quando chegar o aporte financeiro”, afirmou.

Fechamentos se acumulam em MS e no país

Nos últimos anos, diversas agências foram encerradas em Mato Grosso do Sul como parte de uma política nacional de redução de custos. O sindicato alerta que o fechamento compromete o atendimento e sobrecarrega as demais unidades.

Paralelamente, a estatal negocia um empréstimo de R$ 20 bilhões com um consórcio de bancos (Banco do Brasil, Citibank, BTG Pactual, ABC Brasil e Safra), com garantia da União. Contudo, o Tesouro Nacional rejeitou o aval porque a taxa de juros do crédito — 136% do CDI (cerca de 20,4% ao ano) — supera o limite considerado aceitável. O governo só aceita garantir operações até 120% do CDI.

O valor integra o plano de reestruturação aprovado pelo Conselho de Administração dos Correios. Parte dos recursos serviria para quitar dívidas, evitar colapso, retomar investimentos e reorganizar a estatal.

Prejuízo recorde e risco de colapso

O balanço apresentado pela direção dos Correios aponta:

  • R$ 6 bilhões de prejuízo acumulado até setembro de 2025;

  • projeção de chegar a R$ 10 bilhões em déficit até dezembro;

  • R$ 4 bilhões de rombo apenas no primeiro semestre.

O cenário levou à suspensão de pagamentos a fornecedores, aluguéis e até ao plano de saúde dos trabalhadores, no qual a estatal arca com 60% do custo, mas está inadimplente.

Concursados sem convocação

A crise também afeta diretamente o quadro de pessoal. Em Mato Grosso do Sul, há cerca de 1,1 mil trabalhadores, quase metade do efetivo de anos anteriores. Não há reposição desde 2011, apesar dos programas de desligamento e de um concurso concluído há quase um ano, sem convocação de aprovados.

No Brasil, o número de funcionários caiu de 120 mil para 87 mil.

Sindicato critica plano de reestruturação

Para Wilton Lopes, o fechamento de agências é uma estratégia equivocada:
“Isso acaba sendo uma economia burra. Cortam despesas, mas ignoram a necessidade de recuperar a receita”, disse.

Ele atribui parte da crise a medidas do governo anterior, como a precarização no transporte de encomendas, que ampliou atrasos e reduziu competitividade. O exemplo citado é o Sedex, cujo padrão “D+1” já não é cumprido em inúmeras localidades.

O sindicalista também criticou a atual gestão e o governo federal:
“Prometeram fortalecer os Correios, mas não reverteram a precarização. Há dois anos, tínhamos condições de nos reerguer. Hoje, a crise só aprofundou.”

Fatores que agravaram a crise

O dirigente aponta duas causas adicionais para o rombo:

  1. Universalização Postal, que obriga atendimento em todos os municípios — custo estimado em R$ 5 bilhões anuais, sem compensação do governo.

  2. Taxação de pequenas importações — a chamada “taxação das blusinhas”. Os Correios perderam exclusividade em encomendas internacionais de até 150g e viram o volume de entregas cair, reduzindo a receita entre R$ 4 bilhões e R$ 5 bilhões ao ano.

Somados, os dois fatores superam o déficit atual da estatal.

Papel social e relevância estratégica

Mesmo diante da crise, os Correios seguem essenciais em diversas políticas públicas. O sindicato cita o programa federal que utiliza a rede postal para devolver valores descontados indevidamente de aposentados e pensionistas do INSS.

Outra função estratégica é atender municípios pequenos onde a iniciativa privada não atua, garantindo inclusão e presença do Estado.

“Esse é o papel dos Correios. É assim no mundo: 95% dos serviços postais ainda são estatais. Países que privatizaram estão voltando atrás”, afirmou Wilton.

Próximos passos

Com a possível obtenção do empréstimo, a estatal pretende regularizar pagamentos, impedir novas paralisações e buscar novos endereços para agências fechadas — incluindo a da Mascarenhas de Moraes.

Por ora, os usuários da região precisarão se deslocar a outras unidades para atendimento, enquanto a crise da estatal segue sem solução definitiva.


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