Saúde / Bem-Estar
Próstata e masculinidade tóxica: como o tabu ainda impede a prevenção do câncer
Especialistas alertam que preconceito, medo do diagnóstico e resistência ao exame de toque agravam riscos para os homens
27/11/2025
06:45
DA REDAÇÃO
©DIVULGAÇÃO
No mês dedicado ao combate ao câncer de próstata, o Novembro Azul, um tema continua central: o tabu que envolve a saúde masculina. A resistência de muitos homens ao exame de toque retal, uma das etapas mais importantes no rastreamento da doença, ainda está profundamente ligada à masculinidade tóxica e às piadas de cunho preconceituoso que cercam o assunto.
Para entender como esse estigma se forma e como pode ser superado, a reportagem ouviu Ciro Jorge, especialista em psiquiatria geral do Instituto Nutrindo Ideais.
Segundo Ciro Jorge, a associação equivocada entre o exame e práticas sexuais é um dos fatores que transformam a prevenção em motivo de vergonha para muitos homens.
Ele explica que esse comportamento nasce da dificuldade de lidar com vulnerabilidades e da cultura que reforça a ideia de que homens não devem demonstrar fragilidade.
Mesmo assim, o psiquiatra acredita que a alta incidência da doença — hoje o tipo de câncer mais frequente entre homens — tende a reduzir o preconceito. “Com o número crescente de diagnósticos, o estigma perde espaço para o autocuidado”, afirma.
Para o especialista, a superação desse tabu depende de uma relação sólida entre paciente e profissional de saúde mental.
Ele reforça que a confiança e a humanização no atendimento permitem que o homem reconheça suas próprias barreiras.
“Quando há vínculo, o paciente se sente seguro para expor seus medos. É nesse momento que conseguimos ressignificar tabus, normalizar o corpo despido e dissociar o exame de qualquer relação com sexualidade ou virilidade”, destaca Ciro.
O psiquiatra aponta que a saúde mental desempenha papel essencial tanto antes quanto depois de um diagnóstico. Os impactos emocionais envolvem:
choque da notícia;
ansiedade durante o tratamento;
medo das consequências futuras, como alterações na ereção, ejaculação e micção.
Por isso, ele reforça a importância de acompanhamento psicológico também para familiares.
A recusa persistente em procurar atendimento deve ligar o sinal de alerta. Entre os sintomas observados por familiares estão:
alteração de apetite e de peso;
mudanças no sono;
variações de humor e disposição;
hiperreatividade a situações simples;
queda no desempenho sexual;
medo excessivo;
choro frequente e sem motivo claro.
Caso esses sinais se repitam, é recomendada avaliação médica, mesmo que o paciente resista. O ideal é que a família relate ao profissional tudo o que observou, respeitando sempre a autonomia do paciente.
Para Ciro Jorge, parte da resistência masculina vem do medo da perda de virilidade após eventuais tratamentos. Ele destaca que é fundamental apresentar dados claros sobre a eficácia atual das terapias e sobre a gravidade da doença quando descoberta tardiamente.
“O câncer de próstata pode ser altamente agressivo e metastático. Em estágio avançado, compromete não apenas a sexualidade, mas a própria sobrevivência”, afirma.
O recado dos especialistas é direto: superar tabus salva vidas. Informação, acolhimento e diálogo são as principais armas para que mais homens busquem prevenção e tratamento adequados.
Fonte:
Ciro Jorge, especialista em psiquiatria geral do Instituto Nutrindo Ideais (@nutrindoideais).
Os comentários abaixo são opiniões de leitores e não representam a opinião deste veículo.
Leia Também
Leia Mais
Caixa paga Bolsa Família a beneficiários com NIS final 9 nesta quinta-feira
Leia Mais
Nota MS Premiada sorteia R$ 300 mil neste sábado; chances são até 28 vezes maiores que na Mega-Sena
Leia Mais
Crise entre Congresso e governo se agrava e ameaça agenda central de Lula
Leia Mais
Governo faz apelo ao Congresso para manter vetos no licenciamento ambiental
Municípios