Polícia / Justiça
Delegada Thays do Carmo reage a ataques racistas e machistas: “Eles serão punidos”
Caso em Dourados é investigado como injúria racial, crime com mesma gravidade penal que o racismo, e pode resultar em prisão
07/10/2025
10:15
DA REDAÇÃO
©DIVULGAÇÃO
A delegada adjunta da Polícia Civil de Dourados, Thays do Carmo Oliveira de Bessa, reagiu com firmeza aos ataques racistas e machistas que sofreu durante uma entrevista ao vivo na última quinta-feira (2). “Eles serão punidos”, afirmou a delegada, que registrou o caso como injúria racial, crime equiparado ao racismo e passível de pena de reclusão.
Durante a transmissão, realizada pela página Folha de Dourados, a delegada concedia entrevista sobre um flagrante de homicídio quando surgiram comentários ofensivos nas redes sociais. Um dos autores escreveu:
“Nossa delegada feia, tá mais pra ser empregada doméstica aqui da minha casa que qualquer outra coisa, e tratar ela igual cachorro aqui.”
Outros usuários chamaram Thays de “cracuda” e sugeriram que ela “lavasse louça”, reproduzindo estereótipos misóginos e racistas.
A delegada contou que só soube dos ataques no dia seguinte, após receber uma ligação do chefe.
“Estávamos no flagrante quando o jornalista me interpelou: ‘grava aqui com a gente’. Falei ali um pouco sobre o que havia acontecido, levei as autoras para a delegacia, deliberei. No outro dia soube dos comentários porque meu chefe me ligou”, relatou.
“É um sentimento de indignação. A pessoa ataca e se sente protegida por um computador. A gente evolui como sociedade, mas o racismo continua. O fato de ser autoridade não é obstáculo para isso”, desabafou Thays.
Segundo a Polícia Civil, o principal autor apagou as mensagens, mas a ocorrência já havia sido registrada e as providências legais foram adotadas. As investigações apontam que os comentários partiram de diferentes regiões do país, e não apenas de Dourados.
Natural de Goiás, Thays viveu por anos em Brasília e está há três anos e três meses em Dourados. Ingressou na Polícia Civil após aprovação em concurso público e iniciou sua carreira na Delegacia da Mulher, onde atuou em casos graves, incluindo feminicídios.
“Em um deles encontramos o autor duas horas após o crime. Recebemos uma moção de aplauso na Câmara por isso”, lembrou a delegada.
Mesmo acostumada a lidar com situações de alta complexidade, Thays afirmou que nenhuma repercussão foi tão intensa quanto a dos ataques racistas.
“Enquanto mulher, buscamos respeito. Que nossa condição de mulher e de profissional seja reconhecida, e que gênero e cor jamais sejam motivo de desqualificação”, declarou.
Na sessão desta terça-feira (7), a delegada recebeu apoio público das deputadas Lia Nogueira (PSDB), Gleice Jane (PT) e Mara Caseiro (PSDB) na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul.
“É por isso que continuam matando mulheres em Mato Grosso do Sul”, destacou Lia Nogueira, ao criticar a naturalização do discurso de ódio.
O presidente da Casa, Gerson Claro (PP), determinou o envio de um pedido coletivo de providências em nome dos 24 deputados estaduais, ampliando o repúdio formal às agressões.
A Adepol (Associação dos Delegados de Polícia de Mato Grosso do Sul) também publicou nota oficial, classificando as ofensas como “descabidas e covardes”.
“A associação existe para proteger a honra e as prerrogativas de todos os seus membros. Nenhum delegado está sozinho”, diz o comunicado.
De acordo com a Polícia Civil, os autores já foram identificados e serão responsabilizados criminal e civilmente.
“A punição tem também um efeito pedagógico. Que sirva para lembrar que atrás da tela há um ser humano e uma sociedade que não tolera mais o preconceito”, concluiu Thays do Carmo.
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