Turismo / Aventura
Lago Titicaca e os desafios da vida nas ilhas dos Uros e Taquile
Entre tradições milenares e paisagens exuberantes, comunidades enfrentam isolamento, clima extremo e dependência do turismo para manter vivas suas raízes culturais
21/06/2025
18:00
MORENTE GLOBAL
DA REDAÇÃO
©DIVULGAÇÃO
Localizado a 3.812 metros de altitude, na divisa entre Peru e Bolívia, o Lago Titicaca é considerado o lago navegável mais alto do mundo. Suas águas cristalinas cercadas por montanhas andinas e céu intensamente azul são muito mais do que um cartão-postal: abrigam povos ancestrais que vivem de forma única, em harmonia com a natureza, mas enfrentando enormes desafios no dia a dia.
Às margens do lago, a cidade de Puno é conhecida como a “Capital Folclórica do Peru”. Suas ruas vibram com cores, danças e músicas, especialmente durante o famoso Festival da Virgem da Candelária, que atrai milhares de pessoas com trajes típicos, máscaras e coreografias que retratam lendas e tradições andinas.
Puno é também o ponto de partida para quem deseja explorar duas das ilhas mais conhecidas do lago: as Ilhas Flutuantes dos Uros e a Ilha Taquile.
As Ilhas Flutuantes dos Uros são um verdadeiro exemplo de engenharia ancestral. Construídas sobre camadas de totora, uma planta aquática abundante no lago, as ilhas exigem manutenção constante, com reforços frequentes de novas camadas para não afundarem.
O povo Uro vive nessas ilhas há séculos, preservando tradições que remontam à época pré-inca. Suas casas, também feitas de totora, são símbolo da criatividade e resiliência.
A economia local gira em torno da pesca, da caça de aves e do turismo, além do artesanato, especialmente feito pelas mulheres, que confeccionam miniaturas de barcos, ilhas, tapetes e bordados que contam a história de sua cultura.
Os homens são responsáveis pela construção dos famosos “caballitos de totora”, embarcações feitas à mão que se tornaram símbolo da região.
A cerca de duas horas de barco de Puno, a Ilha Taquile encanta pelas paisagens deslumbrantes e pela preservação rigorosa de seus costumes.
A ilha é internacionalmente reconhecida pela sua tradição têxtil, declarada Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO.
Curiosamente, na cultura local, são os homens que tecem, enquanto as mulheres fiavam a lã. Cada tecido conta uma história, indica o status social e funciona como um verdadeiro código cultural.
Um detalhe curioso é que o formato e a cor dos chapéus dos homens indicam seu estado civil: solteiro, casado ou comprometido.
A vida em Taquile é comunitária. Não há hotéis tradicionais, e os turistas são hospedados nas casas das famílias locais, compartilhando refeições típicas, à base de peixe, milho, batata e quinoa.
O acesso às ilhas é exclusivamente por barco. Emergências médicas, transporte de alimentos, materiais escolares e suprimentos dependem do clima, que pode ser severo, com ventos fortes e variações extremas de temperatura.
As manhãs são agradáveis, mas as noites podem registrar temperaturas abaixo de zero, especialmente no inverno andino. As casas, feitas de totora ou adobe, não oferecem isolamento térmico adequado, gerando problemas respiratórios e doenças associadas ao frio.
O acesso à saúde é limitado, com poucos postos nas ilhas. Casos mais graves precisam ser levados a Puno. Na educação, a estrutura é básica e muitos jovens acabam deixando as ilhas em busca de melhores oportunidades nas cidades, provocando êxodo rural e risco de desaparecimento cultural.
A totora apodrece com o tempo, exigindo que os moradores renovem as camadas quase semanalmente. É um trabalho físico exaustivo e ininterrupto, essencial para que as ilhas continuem flutuando.
O turismo se tornou uma das principais fontes de renda. Porém, isso torna as comunidades extremamente vulneráveis, como ficou evidente durante a pandemia da COVID-19, quando a falta de visitantes levou à crise econômica local.
Apesar das adversidades, os povos do Lago Titicaca seguem firmes, mantendo viva uma herança de resistência, sabedoria ancestral e conexão profunda com a natureza.
Cada fibra de totora entrelaçada, cada fio tecido na Ilha Taquile, carrega uma história de luta, de preservação cultural e de orgulho por sua identidade.
Visitar essas ilhas vai além do turismo. É um mergulho na história viva dos Andes, uma experiência que desperta reflexão sobre a diversidade de formas de viver, sobre resiliência e sobre os desafios que muitas comunidades enfrentam para manter suas raízes em meio às transformações do mundo moderno.
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