Artigo
A sabedoria de ser como a água
05/10/2025
09:30
WILSON AQUINO
WILSON AQUINO*
Vivemos dias em que os ânimos se exaltam com facilidade. Seja em debates familiares, no ambiente de trabalho, no trânsito ou até em discussões políticas nas redes sociais, as divergências de opinião, impulsionadas pela avalanche de informações, transformam qualquer conversa em terreno fértil para conflitos. Manter a serenidade, o equilíbrio e o autocontrole, hoje, não é apenas uma virtude: é uma necessidade urgente para que possamos viver em harmonia conosco e com os outros.
Sem esse domínio, amizades se desfazem, lares se dividem e, em casos extremos, surgem a violência verbal e até a física. Quantas vezes vemos pessoas perderem o controle apenas porque suas ideias não foram aceitas? É nesse ponto que precisamos recordar uma lição atemporal: discutir em vão com quem está preso a uma ideia fixa é inútil. Mais sábio é expressar o ponto de vista com clareza e firmeza, mas sem se deixar arrastar pelo calor das emoções.
É aqui que entra o ensinamento de Bruce Lee, o lendário mestre das artes marciais, que marcou o mundo não apenas pela força física, mas pela sabedoria espiritual. Ele ensinava que o ser humano deveria ser como a água: capaz de se adaptar a qualquer forma sem jamais perder a própria essência. Colocada em um copo, ela se torna o copo; em uma garrafa, a garrafa; em um bule, o bule. A água se molda, mas continua sendo água. Suave e paciente, mas também capaz de romper pedras e derrubar barreiras.
Esse princípio vale para a vida. Adaptar-se não significa se perder. Significa permanecer fiel a quem se é, mesmo diante de ambientes e situações adversas. Infelizmente, muitos deixam que o meio molde não apenas sua forma, mas sua essência. As redes sociais, por exemplo, exploram essa fraqueza: líderes políticos e ideológicos manipulam multidões inteiras, transformando pessoas em massas de manobra. Quem não tem clareza de sua identidade, de seus valores e de seu propósito, torna-se refém do discurso alheio.
O verdadeiro desenvolvimento humano é libertador. Quando alguém descobre sua capacidade de pensar, aprender, enxergar e entender por si mesmo, rompe as correntes invisíveis que o prendem ao controle dos outros. É o início da autoconfiança e da liberdade interior. Bruce Lee dizia que o maior combate não é contra os outros, mas contra si mesmo. Vencer a própria mente é conquistar a maior de todas as vitórias.
Isso começa por um gesto simples, mas profundo: nunca mentir para si mesmo. Muitos preferem viver em ilusões, fugindo de suas fraquezas, quando o caminho da verdadeira força está justamente em encará-las. Quem se esconde de si acaba se tornando prisioneiro de opiniões e expectativas externas. Daí surgem pessoas que levantam bandeiras sem conhecer seu real significado, que gritam palavras de ordem sem compreender suas causas, apenas repetindo o coro das multidões.
A Bíblia nos ensina que a verdadeira força está no domínio próprio e na mansidão. Em Provérbios 16:32 lemos: “Melhor é o que tarda em irar-se do que o poderoso, e o que governa o seu espírito do que o que toma uma cidade.” Isso mostra que controlar a si mesmo é mais grandioso do que conquistar qualquer território externo. Assim como a água, que se molda sem perder sua essência, o discípulo de Cristo aprende a dominar suas emoções para agir com sabedoria, paciência e serenidade.
O próprio Salvador deu o maior exemplo dessa flexibilidade firme. Em seu Sermão da Montanha, Ele ensinou: “Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra” (Mateus 5:5). Mansidão não é fraqueza, mas poder sob controle, força guiada pelo Espírito. Ser manso é saber se adaptar às circunstâncias, como a água, sem se corromper, mantendo firmeza nos princípios e pureza no coração.
Profetas modernos também reforçam esse princípio. O Presidente Russell M. Nelson, por exemplo, ensinou que “nossa capacidade de vencer o mundo está diretamente ligada à nossa habilidade de exercer autocontrole e escolher seguir o Salvador.” Ele, que faleceu na semana passada, dia 27, aos 101 anos, mostrou em vida que não precisamos nos endurecer diante dos desafios, mas aprender a fluir em retidão, deixando que o Espírito Santo nos molde em cada situação, sem perdermos nossa identidade divina como filhos de Deus.
Na conferência geral de outubro de 2024, em seu discurso “Following Christ”, Dallin H. Oaks - que assumirá a presidência de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, a partir deste domingo, dia 3 de outubro, em lugar do presidente Nelson, que faleceu - ensinou: “Este é um tempo de muitas palavras duras e feridas nas comunicações públicas e até dentro das famílias… O Salvador ensinou que quem tem espírito de contenda não é de mim, mas é do diabo, que incita os corações dos homens a contenderem com ira. … Devemos evitar contenda e ser pacificadores em todas as nossas comunicações.”
Assim como Bruce Lee ensinava que a água se adapta sem perder sua essência, o evangelho de Jesus Cristo nos lembra que devemos permanecer fiéis à nossa identidade divina, mesmo diante das pressões e turbulências da vida. O Senhor nos convida a ser firmes nos princípios, mas humildes e flexíveis na convivência com os outros. Quando exercemos o autocontrole, guiados pelo Espírito, tornamo-nos livres de qualquer manipulação externa. Ser como a água, portanto, é viver em Cristo: fluir com serenidade, resistir com firmeza e transformar o mundo ao nosso redor, sem jamais perder a pureza de nossa verdadeira essência.
*Jornalista e Professor
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