Política / Justiça
Bolsonaro foi alertado sobre fraudes no INSS ainda na transição de governo, dizem peritos
Associação Nacional dos Médicos Peritos apresentou indícios de irregularidades em reuniões de 2018; ex-presidente teria ficado surpreso com números
25/09/2025
07:45
DA REDAÇÃO
©DIVULGAÇÃO
A Associação Nacional dos Médicos Peritos da Previdência Social (ANMP) afirmou que alertou o então presidente eleito Jair Bolsonaro (PL) sobre “desvios, fraudes e irregularidades com o dinheiro público dentro do INSS” ainda durante a transição de governo, em dezembro de 2018. A entidade apresentou os dados em reunião realizada no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília, onde funcionava o gabinete de transição.
Segundo registros da ANMP, os peritos foram recebidos ao menos três vezes pela equipe de Bolsonaro:
12 de novembro de 2018 – encontro com o então ministro Onyx Lorenzoni, que chefiava o gabinete de transição.
11 de dezembro de 2018 – reunião presencial com Jair Bolsonaro, intermediada pelo senador Izalci Lucas (PL-DF).
Agenda adicional com o deputado Osmar Terra (PL-RS), anunciado como futuro ministro da Cidadania.
Na ocasião, os representantes da ANMP relataram problemas ligados ao seguro-defeso, aposentadorias rurais e à gestão do INSS, além de defenderem mudanças estruturais na carreira pericial. Bolsonaro, segundo a entidade, “reforçou a importância do trabalho dos peritos e ficou surpreso com os números apresentados”.
Os alertas ocorreram antes da explosão do escândalo dos descontos indevidos em benefícios previdenciários, revelado no governo Lula, a partir de investigações da CGU e da Polícia Federal. O caso culminou na queda do então ministro da Previdência, Carlos Lupi (PDT), e alimenta debates na CPMI do INSS.
Parlamentares governistas insistem que a arquitetura das fraudes remonta a governos anteriores, enquanto a oposição aponta falhas de fiscalização nos mandatos seguintes.
O senador Izalci Lucas, em entrevistas e debates, confirmou ter sido procurado por peritos, mas evitou dar nomes. Ele citou a edição da Medida Provisória 871, em janeiro de 2019, como resposta imediata do governo Bolsonaro aos indícios de irregularidades. A MP previa:
revalidação periódica das autorizações de desconto em aposentadorias e pensões;
suspensão imediata de pagamentos sob suspeita;
exigência de certidões adicionais em casos de aposentadoria rural.
A medida, no entanto, foi modificada pelo Congresso nos anos seguintes e parte de suas exigências acabou revogada em 2022.
Em declarações recentes, Onyx Lorenzoni disse se lembrar de debates sobre perícia médica remota, bônus de produtividade e escalas de trabalho, mas afirmou não recordar detalhes sobre os descontos associativos, pivô da atual crise. Já Osmar Terra não respondeu às solicitações da imprensa.
A ANMP, representada à época por Francisco Cardoso (hoje vice-presidente), Luiz Argolo (atual presidente) e Samuel Abranques, não quis se manifestar agora.
As revelações feitas em 2018 ganharam novo peso com a CPI e a repercussão das investigações da CGU e da PF, que apontam perdas bilionárias no INSS. O episódio mostra que os alertas sobre as fragilidades do sistema previdenciário já eram conhecidos antes da explosão do escândalo que atinge diretamente a credibilidade do órgão.
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