Política / Justiça Eleitoral
Mudança no TSE alimenta plano de Bolsonaro para tentar voltar às eleições em 2026
Ex-presidente aposta na nova composição do Tribunal para tentar reverter sua inelegibilidade, mas cenário jurídico ainda é desfavorável
16/06/2025
15:00
DA REDAÇÃO
Nunes Marques: indicado ao STF pelo ex-presidente, ministro comandará processo de votação no ano que vem (Luiz Roberto/Secom/TSE)
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) segue apostando em uma estratégia arriscada para tentar voltar ao jogo eleitoral em 2026. Apesar de estar inelegível por duas decisões do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e responder a processos criminais no Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro articula nos bastidores uma ofensiva baseada na futura composição da Corte eleitoral.
A expectativa do ex-presidente é que, com a chegada dos ministros Nunes Marques e André Mendonça aos postos de presidente e vice-presidente do TSE, respectivamente, haja espaço para uma reviravolta. Ambos são aliados e indicados por Bolsonaro ao STF, e vêm atuando de forma alinhada em julgamentos sensíveis, como os processos dos envolvidos no 8 de Janeiro.
A estratégia de Bolsonaro é semelhante à adotada pelo então ex-presidente Lula em 2018, quando, mesmo preso, registrou sua candidatura ao Planalto. Na ocasião, a candidatura foi barrada 36 dias antes do primeiro turno, permitindo que Fernando Haddad, seu substituto, herdasse parte significativa dos votos.
O ex-presidente planeja repetir a tática: registrar candidatura, recorrer e, enquanto o processo tramita, percorrer o país como candidato, fortalecendo seu nome ou o de um possível substituto — que pode ser, segundo interlocutores, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) ou outro membro da família.
O plano depende diretamente das mudanças no TSE. A Corte é composta por sete ministros: três do STF, dois do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e dois juristas nomeados pela Presidência da República. Em 2026, Nunes Marques será o presidente e André Mendonça o vice, figuras que já demonstraram alinhamento com Bolsonaro em diversas decisões.
A rotação dos cargos cria expectativa. As cadeiras dos juristas — hoje ocupadas por André Ramos Tavares e Floriano de Azevedo Marques — serão renovadas. Cabe ao presidente Lula escolher os novos integrantes, a partir das listas tríplices formuladas pela atual presidente do TSE, ministra Cármen Lúcia.
Cármen, para evitar concentração de influência, colocou os dois juristas alinhados com Moraes na mesma lista, e a segunda foi formada apenas por mulheres. Isso obrigará Lula a optar por um equilíbrio na composição, o que gerou desconforto no PT e em setores progressistas.
Apesar da aposta, a realidade jurídica é complexa para Bolsonaro. A presidência do TSE não permite ao ministro-relator assumir processos. Assim, Nunes Marques não poderá ser sorteado para relatar o eventual pedido de registro de candidatura do ex-presidente. A chance de cair com André Mendonça, que será vice, é de apenas 1 em 6.
Mesmo se houver uma liminar favorável suspendendo temporariamente a inelegibilidade, como tentado por Lula em 2018 via Comitê de Direitos Humanos da ONU, o caso precisa ser validado pelo plenário da Corte — e o histórico não é favorável.
Além disso, Bolsonaro ainda corre risco de condenação criminal no STF no âmbito dos processos relacionados à tentativa de golpe, o que pode gerar uma nova inelegibilidade ou até mesmo prisão.
A movimentação de Bolsonaro também afeta diretamente o cenário político de 2026. A possível tentativa do ex-presidente de voltar à disputa pressiona partidos de direita e reorganiza alianças. Caso não consiga, há expectativa de que ele lance alguém da família ou um nome de confiança.
A movimentação não passou despercebida pelo governo. Interlocutores do Planalto revelaram que Lula já tomou medidas para conter a influência bolsonarista no Judiciário, como a indicação do desembargador Carlos Brandão ao STJ, alinhado ao grupo governista.
O TSE terá papel central na eleição de 2026, não apenas na homologação de candidaturas, mas na garantia do processo eleitoral e no enfrentamento às tentativas de desestabilização institucional. A composição da Corte, assim como do Senado — responsável por aprovar ou rejeitar ministros do STF —, se tornará decisiva no embate político entre Lula, Bolsonaro e a terceira via.
A sociedade, especialistas e lideranças esperam que, independentemente da mudança de ministros, o TSE siga cumprindo seu papel constitucional de zelar pela legalidade, pela lisura do processo eleitoral e pela defesa da democracia.
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