Campo Grande (MS), Quinta-feira, 06 de Novembro de 2025

Cultura / Literatura

Há 18 anos, Delasnieve Daspet transformou em lei o amor pela literatura sul-mato-grossense

Autora de 27 livros e referência internacional, escritora de Porto Murtinho é a criadora do Dia da Literatura Sul-Mato-Grossense, celebrado em 6 de novembro

06/11/2025

11:15

DA REDAÇÃO

©DIVULGAÇÃO

O dia 6 de novembro marca uma data simbólica no calendário cultural de Mato Grosso do Sul: o Dia da Literatura Sul-Mato-Grossense, criado há 18 anos por iniciativa da escritora, poeta e ativista cultural Delasnieve Daspet. A lei, sancionada em 31 de dezembro de 2007 pelo então governador André Puccinelli, nasceu do desejo de reconhecer o escritor regional e valorizar a produção literária do Estado.

“Elaborei um anteprojeto completo e o levei à Assembleia Legislativa, que acolheu a ideia e a transformou em lei. Descobri que não havia uma data dedicada aos nossos escritores e senti que era preciso agir”, relembra Delasnieve.

Desde então, a data passou a integrar o calendário cívico e cultural de Mato Grosso do Sul, celebrando o talento e a resistência dos autores locais.

“A lei está completando 18 anos, atingindo a maioridade. Mas foi comemorada oficialmente apenas uma vez. Desde então, eu mesma mantenho viva essa chama, escrevendo, palestrando e estimulando o amor pela literatura sul-mato-grossense”, afirma a autora.

Literatura como reconhecimento e resistência

Para Delasnieve, a criação da lei representa mais do que uma homenagem — é um ato de valorização profissional e cultural.

“O escritor ainda não é reconhecido como profissional, mas doa o que tem de mais íntimo — seus pensamentos, emoções e sonhos — para inspirar outras pessoas”, destaca.

Mesmo com os avanços da tecnologia e da leitura digital, ela aponta que o maior desafio ainda é ser lido.

“Em Campo Grande há poucas livrarias, e o livro regional muitas vezes fica escondido nas prateleiras. Falta vontade de mostrar o que é nosso, de valorizar o autor da terra”, afirma.

Por outro lado, a escritora reconhece avanços significativos:

“Hoje, com as redes sociais e as transmissões online, conseguimos chegar a outros países. Os escritores sul-mato-grossenses estão conquistando visibilidade internacional, participando de feiras, bienais e ocupando o espaço que lhes pertence.”

Uma trajetória premiada e internacional

Com 27 livros publicados e obras traduzidas para mais de dez idiomas — incluindo inglês, francês, espanhol, russo, norueguês, japonês e coreano —, Delasnieve Daspet é uma das autoras mais premiadas do país.

Seu trabalho já foi reconhecido por instituições como a Academia Francesa de Letras, Ciências e Artes, além de ter recebido premiações em Nova Iorque, Japão e Suíça, e comendas da Assembleia Legislativa, Câmara Municipal de Campo Grande, OAB-MS e entidades culturais internacionais.

Em 2023, foi indicada ao Prêmio Nobel de Literatura pela Academia Internacional de Escritores Brasileiros, sediada na Flórida, ficando entre os finalistas.

“Foi um reconhecimento que não tem tamanho. Fiquei orgulhosa de ver o nome do Mato Grosso do Sul sendo lembrado em um certame desse porte”, diz.

Embaixadora da paz e ativista cultural

Além da literatura, Delasnieve atua como embaixadora da paz e vice-presidente internacional do IFLAC World Peace. Em 2023, organizou no Memorial da América Latina, em São Paulo, o maior evento internacional pela paz, reunindo representantes de 29 países.
A autora também levou sua exposição sobre mudanças climáticas e humanidade a Braga (Portugal), posteriormente apresentada em Campo Grande, na Casa de Cultura, na OAB-MS e na UFMS.


🌿 Da beira do rio à literatura universal

Nascida em Porto Murtinho, às margens do Rio Paraguai, Delasnieve cresceu em meio à natureza pantaneira e à simplicidade do interior.

“Aprendi a ler com a Bíblia. Meu pai me ensinava os salmos e me pedia para escrever o que eu entendia. Foi assim que comecei a amar as palavras”, recorda.

Desde os nove anos, escreve poemas que mesclam paisagens do Pantanal e reflexões universais.

“Minha literatura é interiorizada e simbólica. O livro ‘Pã - Che Tetã’ une o grego e o guarani — ‘Pan’ representa os deuses das matas, e ‘Che Tetã’ é minha terra. É o diálogo entre o sagrado e o pantaneiro.”

O poder transformador da palavra

Para a escritora, escrever é um ato de sobrevivência e transformação.

“A gente dilui em palavras as dores e os sentimentos. Quando alguém me diz ‘esse poema foi feito para mim’, sei que o que é pessoal se torna universal.”

Ela também defende o incentivo à leitura desde a infância:

“Os pais precisam ensinar os filhos a ler e interpretar. A leitura abre mundos, desperta o desejo de ser melhor e entender o outro.”

Com centenas de medalhas e dezenas de prêmios, Delasnieve resume sua trajetória em uma frase que define sua essência:

“Eu escrevo para viver, e vivo para escrever.”


Os comentários abaixo são opiniões de leitores e não representam a opinião deste veículo.

Últimas Notícias

Veja Mais

Envie Sua Notícia

Envie pelo site

Envie pelo Whatsapp

Rede News MS © 2021 Todos os direitos reservados.

PROIBIDA A REPRODUÇÃO, transmissão e redistribuição sem autorização expressa.

Site desenvolvido por: