Com a aposentadoria antecipada do ministro Luís Roberto Barroso do Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se prepara para indicar o novo integrante da Corte. A movimentação abriu uma disputa política em Brasília, e entre os parlamentares ligados ao bolsonarismo, há uma clara preferência pelo ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, em detrimento dos também cotados Jorge Messias, atual ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), e Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado.

Embora reconheçam a boa relação de Dantas com o governo, líderes da oposição consideram que ele mantém diálogo equilibrado com diversos setores, incluindo empresários e parlamentares da direita. Além disso, lembram que o ministro do TCU teve boa interlocução com Jair Bolsonaro (PL) durante seu mandato e não adota postura ideológica. Mesmo assim, avaliam que suas chances de indicação são menores, já que seu principal padrinho político é Renan Calheiros (MDB-AL), figura de influência, mas com alta rejeição na base bolsonarista.

Por outro lado, os aliados de Bolsonaro avaliam que a indicação de Jorge Messias representaria o pior cenário possível. Para eles, o ministro da AGU é “alinhado ao projeto petista e ideologicamente engajado”. Mesmo o fato de ser evangélico — característica que em outras ocasiões agradou o campo conservador, como no caso de André Mendonça — não é visto como suficiente para amenizar as resistências.

Em relação a Rodrigo Pacheco, o grupo o classifica como uma opção aceitável, ainda que “o menos pior”. Apesar dos embates travados com Bolsonaro durante seu mandato, Pacheco é considerado moderado, com trânsito entre parlamentares e setores econômicos. Sua eventual indicação conta com o apoio de Davi Alcolumbre (União-AP), que, segundo apuração da Folha de S.Paulo, se comprometeu a trabalhar para garantir ampla votação a favor do senador, caso seja escolhido por Lula.

Cálculo político e disputa em Minas Gerais

Mesmo com o apoio no Senado, a possível ida de Pacheco ao STF traz implicações políticas em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país. Lula vê no presidente do Senado o nome ideal para disputar o governo mineiro em 2026, articulando uma frente ampla contra a direita.

O próprio Pacheco nunca escondeu o desejo de integrar o Supremo, mas ainda não decidiu se concorrerá ao governo estadual. “Farei o que o presidente Lula quiser”, declarou recentemente. Lula, por sua vez, afirmou em entrevista à rádio Itatiaia:

“Tenho certeza de que ganharemos o estado de Minas Gerais com o Pacheco. É só ele se dispor a ser candidato. Espero que, em poucos dias, tenhamos essa definição.”

Apesar do entusiasmo do presidente, bolsonaristas consideram Pacheco um nome fraco eleitoralmente, com pouca competitividade diante de possíveis adversários, como Cleitinho (Republicanos) e Mateus Simões (Novo), vice do governador Romeu Zema.

Aposentadoria e bastidores no Supremo

Barroso anunciou sua aposentadoria na quinta-feira (9), após 12 anos e 3 meses no STF, encerrando o período em que presidiu o tribunal. A saída ocorreu de forma antecipada — ele só completaria a aposentadoria compulsória em 2033 — e foi recebida com comemorações entre parlamentares bolsonaristas, que o viam como um dos ministros mais alinhados à esquerda.

O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) ironizou a saída ao publicar nas redes sociais “Tchau, mané”, em referência à expressão usada por Barroso (“Perdeu, mané, não amola”) durante um embate com um apoiador de Bolsonaro em 2022. Já o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), ironizou a possibilidade de uma mulher ser indicada à vaga, destacando o baixo interesse de Lula nessa direção.