Política
José Dirceu: “Conseguimos manter o Brasil na rota democrática”
Ex-ministro relembra trajetória, critica ingerência dos EUA e projeta eleições de 2026 como chance de ampliar base de Lula
24/08/2025
08:00
DA REDAÇÃO
©DIVULGAÇÃO
Figura central da política brasileira nas últimas décadas, o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, concedeu entrevista, na qual falou sobre sua trajetória, os desafios enfrentados no período da ditadura e após os processos judiciais, e analisou o cenário atual do Brasil diante de pressões internacionais e da polarização política.
“Eu nunca desisti, mesmo nos piores momentos, continuei lutando. Conseguimos manter o Brasil na rota democrática”, afirmou Dirceu.
Advogado, ex-deputado e militante desde os anos 1960, Dirceu relembrou os períodos de prisão e clandestinidade durante a ditadura militar. Para ele, a eleição de Lula em 2002 foi o ponto mais simbólico de sua carreira:
“A maior vitória não foi minha, foi do Brasil. Era o sonho da minha geração, a geração de 1968, que enfrentou a ditadura de peito aberto.”
O ex-ministro destacou que se manteve fiel aos ideais de sua geração e aos companheiros que tombaram na luta contra o regime militar.
Ao comparar o início dos anos 2000 com o governo Lula atual, Dirceu destacou que hoje o país enfrenta condições muito mais difíceis.
“Enfrentamos uma extrema-direita que disputa o poder por meios violentos e antidemocráticos. Lula herdou um país dividido, com ministérios extintos e a máquina pública desmontada. Foi preciso reconstruir a governabilidade.”
Segundo ele, os últimos anos mostraram avanços: queda do desemprego, aumento da renda e recuperação da economia.
“Superamos a herança do bolsonarismo e conseguimos manter o Brasil na rota democrática.”
Dirceu criticou a postura do governo de Donald Trump, que teria pressionado o Brasil por razões políticas, especialmente ligadas à situação judicial de Jair Bolsonaro.
“Não é contra Lula, é contra o Brasil. Essa ingerência ameaça nossa soberania. Questões comerciais sempre foram resolvidas na OMC ou pela diplomacia, mas agora a motivação é política.”
Ele reforçou que a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023 é tema exclusivo da Justiça brasileira e que não cabe pressão externa sobre decisões do STF ou do Congresso.
Dirceu também comentou sobre os processos e prisões decorrentes do Mensalão e da Lava Jato, que considera marcadas por injustiças e perseguições.
“No caso da Lava Jato, fui preso três vezes, e em todas o STF mandou me soltar. As prisões eram ilegais. O objetivo de Moro e Dallagnol era me fazer delatar Lula.”
Durante os 22 meses de encarceramento, Dirceu escreveu livros e afirmou que pretende lançar “Diário de Prisão – Memórias 2” e um terceiro, após 2026, intitulado “Eu e a Lava Jato”.
O ex-ministro confirmou que voltará a disputar as eleições de 2026, concorrendo a deputado por São Paulo. Ele defendeu uma estratégia ampla para fortalecer o PT e seus aliados.
“Nosso objetivo é dobrar a bancada dos partidos aliados – PT, PSOL, Rede, PDT, PSB, PV, PCdoB e Cidadania – e eleger o maior número de senadores.”
Para Dirceu, a sociedade está consciente da gravidade da atual conjuntura e das alianças entre o bolsonarismo e Trump.
Sobre aproximações políticas, Dirceu disse que Lula já dialoga com PSD, União Brasil, PP, Republicanos e MDB.
“É fundamental isolar a extrema-direita. Isso não significa que partidos de direita apoiarão Lula em 2026, mas o diálogo é essencial para manter a governabilidade.”
Com discurso marcado por memória histórica e crítica à ingerência internacional, José Dirceu aposta que o PT e aliados terão fôlego para crescer em 2026.
“O Brasil já enfrentou crises no passado e superou. Agora, apesar da polarização e da pressão externa, temos a chance de consolidar um projeto democrático e popular.”
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