O Senado Federal instalou nesta quinta-feira (7) a Comissão Temporária Externa de Relações Bilaterais Brasil-EUA, com o objetivo de acompanhar e propor soluções para a crise comercial desencadeada pela sobretaxa de 50% imposta pelo governo Donald Trump sobre produtos brasileiros. A comissão é presidida pelo senador Nelsinho Trad (PSD-MS) e tem como relatora a senadora Tereza Cristina (PP-MS), ambos representantes de Mato Grosso do Sul.

A iniciativa partiu da Comissão de Relações Exteriores (CRE) e reforça o papel da diplomacia parlamentar diante de um cenário de tensão econômica e risco de novas sanções comerciais.

Missão oficial aos Estados Unidos

Entre os dias 28 e 30 de julho, o senador Nelsinho Trad liderou uma missão oficial a Washington, onde se reuniu com oito senadores norte-americanos, uma deputada, além de empresários e especialistas em comércio internacional.

Durante os encontros, Trad ouviu alertas diretos de congressistas democratas e republicanos sobre a possibilidade de novas tarifas contra países que mantiverem relações comerciais com a Rússia, sobretudo na área de petróleo e diesel.

“Falaram para nós: ‘Tentem achar uma alternativa nisso aí, porque nós, congressistas, vamos aprovar uma lei no semestre que vem para sobretaxar o país que mantiver esse comércio’”, relatou Trad.

Atualmente, o Brasil importa cerca de 60% do diesel que consome da Rússia, o que coloca o país sob potencial risco de retaliações comerciais futuras.

Alertas ao governo e articulações diplomáticas

Após o retorno ao Brasil, a delegação liderada por Trad apresentou o alerta ao vice-presidente Geraldo Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). O senador destacou que a possibilidade de novas tarifas está no radar do Congresso e do governo dos EUA.

Em outra frente, Trad se reuniu com Gabriel Escobar, encarregado de negócios da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, para discutir os impactos das sobretaxas já em vigor e aprofundar o diálogo diplomático.

Setores mais afetados e reação empresarial

De acordo com o MDIC, o decreto assinado por Trump em 30 de julho impôs sobretaxa de 50% sobre diversos produtos brasileiros, excetuando cerca de 40% da pauta exportadora, como celulose e ferro-gusa. Entre os setores mais impactados, estão:

• Carnes bovina e suína

• Café

• Pescados

• Produtos manufaturados e alimentícios

A Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham) também se reuniu com Trad e pediu a continuidade do trabalho da comissão, avaliando que a crise pode se prolongar e requer atuação estratégica do Parlamento.

“Esse jogo ainda perdura muito tempo”, avaliou Abrão Neto, presidente da Amcham.

Papel da nova comissão

A Comissão Brasil-EUA no Senado terá o papel de:

• Monitorar os impactos econômicos das sobretaxas;

• Promover articulações com o Itamaraty, Ministério da Fazenda e MDIC;

• Dialogar com o Congresso norte-americano e empresários de ambos os países;

• Buscar soluções diplomáticas e legislativas para preservar o comércio bilateral e evitar novas retaliações.