Campo Grande (MS), Terça-feira, 29 de Julho de 2025

Política / Justiça

Militar admite autoria de documento que previa prisão de ministros do STF e diz que era simulação da inteligência do Exército

Tenente-coronel Hélio Ferreira Lima afirma que plano foi elaborado na 6ª Divisão do Exército como “estudo de cenário” e abandonado por ordem superior; PGR vê indício de planejamento golpista

28/07/2025

18:00

DA REDAÇÃO

©DIVULGAÇÃO

O tenente-coronel Hélio Ferreira Lima, integrante das Forças Especiais do Exército e réu no núcleo militar da trama golpista, confirmou nesta segunda-feira (28), ao Supremo Tribunal Federal (STF), que foi o autor do documento denominado “Desenho Operacional Luneta”, que previa a prisão de ministros da Corte e a neutralização da atuação do ministro Alexandre de Moraes.

Segundo o militar, o material foi produzido em novembro de 2022, no âmbito de um trabalho de inteligência da 6ª Divisão do Exército, em Porto Alegre (RS), e não passou de um exercício de simulação de cenários prospectivos, caso fossem detectadas fraudes nas eleições presidenciais daquele ano.

“Se amanhã sair um relatório falando ‘atenção, teve fraude sim’, eu não posso deixar meu comandante ser surpreendido. Tenho que ter alguma coisa para começar a discutir com o Estado-Maior”, declarou Ferreira Lima em depoimento.

Documento previa prisões e novas eleições

O arquivo, localizado pela Polícia Federal em um pen drive funcional do tenente-coronel, sugeria a criação de gabinetes de crise, a realização de novas eleições presidenciais e a prisão preventiva de “juízes supremos considerados geradores de instabilidade”. Também incluía a proposta de “neutralizar a capacidade de atuação do Min AM”, em referência a Alexandre de Moraes.

Apesar da gravidade do conteúdo, Ferreira Lima sustentou que o plano era hipotético e amparado por manuais legais do Exército, e que jamais chegou a ser formalmente discutido com superiores.

“Eu não estava fazendo nada oculto. Surgiu de uma conversa com meu comandante. Quando fui apresentar, ele já havia mudado a prioridade. Mandou abandonar aquilo e nem abriu o computador”, disse.
“Não fala em eliminar ninguém. Era um estudo que dependeria de validação de um general para se transformar em diretriz.”

PGR vê indício de planejamento golpista

Para a Procuradoria-Geral da República (PGR), no entanto, o documento é uma das evidências de que a tentativa de golpe de Estado contra o resultado das eleições de 2022 foi planejada com antecedência, em diferentes frentes de atuação, inclusive na estrutura militar.

A denúncia afirma que o conteúdo deixa "claro que as diversas frentes de atuação da organização foram fruto de planejamento prévio, que antecipavam desde os ataques ao processo eleitoral até a concretização do golpe de Estado".

Ferreira Lima nega essa interpretação e afirma que sua função no setor de inteligência previa avaliações de cenários extremos, inclusive com hipóteses de reação institucional do Exército caso surgissem evidências de fraude — o que nunca aconteceu.

Relação com Mauro Cid e reunião com Braga Netto

O tenente-coronel virou alvo da PF após ser identificado em trocas de mensagens com o ex-ajudante de ordens Mauro Cid, também interpretadas como golpistas pelos investigadores. Ferreira Lima também participou de uma reunião com o general Walter Braga Netto, ex-ministro e aliado de Jair Bolsonaro, realizada em 12 de novembro de 2022, em um apartamento em Brasília.

Ele negou que o encontro tenha tido conteúdo golpista.

Outros militares também depõem no STF

Além de Ferreira Lima, outros nove acusados do núcleo militar da trama golpista prestaram depoimentos nesta segunda-feira no STF:

  • Bernardo Romão Correa Neto (coronel)

  • Estevam Theophilo (general da reserva)

  • Fabrício Moreira de Bastos (coronel)

  • Márcio Nunes de Resende Júnior (coronel)

  • Rafael Martins de Oliveira (tenente-coronel)

  • Rodrigo Bezerra de Azevedo (tenente-coronel)

  • Ronald Ferreira de Araújo Júnior (tenente-coronel)

  • Sérgio Ricardo Cavaliere (tenente-coronel)

  • Wladimir Matos Soares (policial federal)

Todos são investigados pela participação na tentativa de subversão do processo eleitoral e institucional no Brasil.


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