Política / Justiça
Provas obtidas pela VEJA indicam que Mauro Cid mentiu ao STF sobre uso de rede social
Mensagens revelam que delator compartilhou detalhes sigilosos de investigação e criticou Moraes mesmo após acordo de colaboração premiada
13/06/2025
10:45
DA REDAÇÃO
©DIVULGAÇÃO
Mensagens reveladas pela revista VEJA colocam em xeque a credibilidade do acordo de colaboração premiada firmado pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL). Segundo a publicação, Cid mentiu ao Supremo Tribunal Federal (STF) durante interrogatório, ao negar que tenha usado perfis em redes sociais para se comunicar ou tratar de sua delação.
A revelação aconteceu no segundo dia de audiências no STF com os réus do núcleo central da tentativa de golpe de Estado, e pode provocar a anulação do acordo firmado com a PGR, o que teria consequências diretas não apenas para Cid, mas também para sua família, que é beneficiária do pacto.
Durante o depoimento no STF, o advogado Celso Vilardi, que representa Jair Bolsonaro, perguntou a Cid se ele havia utilizado algum perfil falso nas redes sociais para comentar sobre sua delação. O ex-ajudante respondeu que não. Em seguida, foi questionado sobre o perfil @gabrielar702, e Cid hesitou: “Esse perfil, eu não sei se é da minha esposa”.
A pergunta, no entanto, foi feita com base em provas já obtidas — e a armadilha surtiu efeito. Segundo VEJA, mensagens trocadas entre Cid e interlocutores do entorno bolsonarista, entre janeiro e março de 2024, indicam que o militar usou o perfil para revelar bastidores das audiências, criticar o STF e compartilhar versões conflitantes das investigações.
Nas conversas obtidas pela revista, Cid relata pressões da Polícia Federal, afirma que o ministro Alexandre de Moraes já teria decidido condenar os réus antes mesmo do julgamento e se refere ao relator da ação como “cão de ataque” do STF. Em outro trecho, ele diz:
“O jogo é sujo. Não precisa de prova, só de narrativa!”
Há ainda críticas a Moraes, ironias sobre o Supremo e comentários pessimistas sobre o futuro jurídico dos militares envolvidos:
“Os coronéis da PM vão pegar 30 anos… e depois vem para a gente. Só o Pacheco ou o Lira vai nos salvar.”
Ele também afirma que não acusou Bolsonaro de tentativa de golpe, contradizendo trechos de seus próprios depoimentos homologados:
“Eu falava que o PR não iria fazer nada.”
De acordo com as regras do acordo de delação premiada, Mauro Cid não poderia mentir, omitir informações, manter contato com investigados ou usar redes sociais. Além disso, foi alertado pessoalmente por Alexandre de Moraes, antes de depor no STF, de que mentir ao tribunal é crime.
As conversas com interlocutores do entorno de Bolsonaro, feitas por meio do perfil @gabrielar702, teriam ocorrido enquanto Cid usava tornozeleira eletrônica, prestava depoimentos e já havia firmado o acordo com a PGR.
A nova violação pode provocar:
Rompimento do acordo de colaboração premiada, a critério do ministro Alexandre de Moraes
Perda dos benefícios concedidos, como perdão judicial ou redução de pena
Restauração das acusações criminais originais, com risco de até 40 anos de prisão
Afetação da estratégia jurídica da PGR, que usou Cid como delator-chave
Base para questionamentos das defesas de outros réus, como Bolsonaro, Braga Netto e Heleno
Segundo especialistas, a anulação da delação pode comprometer parte da acusação, mas não anulará a totalidade das provas, já que o processo inclui mais de 80 terabytes de arquivos, celulares, vídeos e relatórios técnicos.
Braço direito de Bolsonaro, Cid participou de reuniões estratégicas no Alvorada e era o elo direto com militares e ministros do governo. A delação dele foi considerada peça-chave para a denúncia da PGR contra o grupo acusado de tentar impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva em 2023.
Cid foi citado 179 vezes na peça acusatória e entregou nove celulares, três computadores e centenas de arquivos digitais. Ele também revelou repasses em dinheiro, articulações militares e relatos de reuniões secretas entre o então presidente e generais.
A revelação pode ser explorada pelas defesas de Bolsonaro, Braga Netto, Heleno e outros, que argumentam que as provas e depoimentos de Cid não são confiáveis. Há, inclusive, expectativa de que parte dos embates jurídicos seja transferida para o plenário do STF, onde o grupo bolsonarista acredita ter mais chance de obter decisões favoráveis.
A delação também beneficia familiares de Cid, incluindo seu pai, o general Lourena Cid, além da esposa e da filha. Com o possível rompimento, todos esses benefícios podem ser revistos.
Os comentários abaixo são opiniões de leitores e não representam a opinião deste veículo.
Leia Também
Leia Mais
Moraes revoga prisão de ex-ministro Gilson Machado, aliado de Bolsonaro
Leia Mais
Moraes dá 24h para Meta fornecer dados de perfil atribuído a Mauro Cid no Instagram
Leia Mais
UEMS abre processo seletivo para professor com salário de até R$ 11,1 mil
Leia Mais
Fusão entre PSDB e Podemos é suspensa após impasse sobre comando da nova sigla
Municípios