Especial – Dia do Trabalhador
1º de Maio: as origens do Dia do Trabalhador e os desafios atuais da classe trabalhadora
Data surgiu a partir de um massacre nos EUA e segue sendo símbolo de luta por direitos; no Brasil, reivindicações atuais incluem o fim da escala 6x1 e a redução da jornada semanal
01/05/2025
10:00
AGÊNCIA BRASIL
DA REDAÇÃO
Metalúrgicos do ABC fazem ato junto com movimentos sociais - Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Mais do que uma data comemorativa, o 1º de Maio representa um marco de resistência e luta histórica da classe trabalhadora. A origem da celebração remonta a 1886, em Chicago (EUA), quando milhares de operários entraram em greve exigindo a redução da jornada diária de trabalho, que chegava a 14 horas. A manifestação, violentamente reprimida, ficou conhecida como a “tragédia de Haymarket”, e deu origem ao Dia Internacional dos Trabalhadores, definido em 1889 pela Internacional Socialista.
O episódio culminou com a explosão de uma bomba, a repressão policial que deixou mortos e feridos, e a condenação à morte de líderes operários, sem provas diretas de envolvimento. Quatro foram enforcados e um deles cometeu suicídio na prisão. A data, desde então, tornou-se símbolo de resistência, como explica o historiador Samuel Fernando de Souza, da Escola DIEESE de Ciências do Trabalho.
“A data foi transformada em dia de luta e homenagem àqueles que enfrentaram condições insalubres e opressivas em defesa de uma jornada mais justa”, destaca.
No Brasil, o 1º de maio passou a ser comemorado por trabalhadores organizados já em 1891, inicialmente no Rio de Janeiro e em Porto Alegre. Com o tempo, a data foi apropriada por diferentes governos. Durante o período Vargas (1930-1945), foi convertida em Dia do Trabalho, sendo utilizada para anunciar medidas como a Criação da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e reajustes do salário mínimo.
Após o golpe militar de 1964, o caráter reivindicatório da data foi esvaziado, sendo tratado como um evento festivo. Apenas com o surgimento do Novo Sindicalismo nos anos 1970, especialmente no ABC paulista, a data recuperou seu conteúdo de mobilização política.
Para a socióloga e pesquisadora da UnB, Laura Valle Gontijo, há uma tentativa deliberada de esvaziar o sentido político do 1º de maio ao transformá-lo em “Dia do Trabalho” – um conceito genérico e desprovido de conteúdo de classe.
“Transformá-lo em uma celebração despolitizada é uma forma de impedir que os trabalhadores compreendam a origem e o propósito da data: a luta por direitos concretos”, explica Gontijo.
Ela traça um paralelo com o que ocorre com o Dia Internacional da Mulher, cuja origem também está nas lutas sociais, mas foi ressignificada como uma data comemorativa.
Hoje, as reivindicações da classe trabalhadora mantêm semelhança com as do século XIX: redução da jornada, melhores condições de trabalho e valorização salarial. Segundo Gontijo, muitos trabalhadores enfrentam jornadas superiores a 70 horas semanais, especialmente aqueles que atuam via aplicativos de entrega ou em condições informais.
“A legislação prevê 44 horas semanais, mas entregadores de app chegam a trabalhar 80 horas. Isso remete aos tempos da Revolução Industrial”, alerta.
Uma das pautas mais discutidas atualmente é a extinção da escala 6x1, com substituição por dois dias de folga semanal (5x2). A pesquisadora argumenta que, na prática, muitos trabalhadores sequer têm um dia fixo de descanso, o que inviabiliza vida social, descanso adequado ou planejamento familiar.
“É uma escala insustentável que impede o mínimo de dignidade. O trabalhador se torna um corpo disponível, quase ininterruptamente”, pontua.
A proposta de reduzir a jornada semanal de 44 para 36 horas, sem corte de salário, vem ganhando força, segundo a pesquisadora. “É essencial que essa redução venha acompanhada de limites diários, para evitar aumento da carga concentrada em menos dias”, destaca.
Países como França, que adotaram a jornada de 35 horas desde 1998, são citados como referência de equilíbrio entre produtividade e qualidade de vida.
Embora a tecnologia tenha aumentado a produtividade, Gontijo afirma que os lucros gerados não têm sido compartilhados com os trabalhadores. Pelo contrário: os avanços tecnológicos têm sido usados para intensificar a exploração e ampliar a mais-valia, ou seja, o lucro obtido com base no trabalho não remunerado adequadamente.
“A tecnologia poderia ser usada para reduzir a jornada e melhorar a qualidade de vida. Mas ela está sendo usada para extrair mais do trabalhador, sem repassar os benefícios dessa produtividade”, finaliza.
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