ARTIGOS
MARCO DO SANEAMENTO, DOIS ANOS: Avanços e percalços
Ambiente de segurança jurídica permitiu contratar R$ 76,2 bilhões em outorgas e investimentos; mas meta de universalizar a oferta de água e esgoto até 2033 enfrenta entraves.
22/07/2022
10:00
IRAN COELHO DAS NEVES
Há exatos dois anos, em artigo a propósito da sanção, pelo presidente Jair Bolsonaro, da Lei 14.036/2020, que instituiu o Novo Marco Legal do Saneamento, apontávamos que a medida desenhava perspectivas de que, enfim, o Brasil poderia, paulatinamente, saldar esse “enorme déficit social e sanitário”.
Ao detalhar esse constrangedor e pernicioso déficit, o artigo citava que, em 2020, 35 milhões de pessoas não tinham acesso à água tratada, e mais de cem milhões não contavam com coleta de esgoto. Com o agravante de que apenas 45% dos efluentes coletados eram devidamente tratados.
Não há estatísticas mais recentes, mas é seguro afirmar que essa realidade desoladora pouco mudou nos últimos dois anos. Embora o advento do novo marco regulatório tenha conferido maior segurança jurídica para os grandes investimentos que o setor demanda, obras de saneamento básico exigem tempo dilatado para implantação.
E aqui surge uma questão crucial: pequenos e médios municípios, que em geral detêm os mais graves déficits de saneamento básico, naturalmente não atraem investimentos privados, por falta de escala. A saída, dizem os especialistas, seria a articulação desses municípios em blocos regionais potencialmente atrativos. Porém, para a estruturação desses pactos os gestores municipais dependem de apoio institucional de estados e de organismos federais.
Portanto, passados já dois anos, não são muito promissoras as perspectivas de que se cumpra a meta do Novo Marco do Saneamento Básico para 2033: garantir água tratada para 99% da população brasileira, e que 90% tenham acesso à coleta e tratamento de esgoto.
Em 2020 estimava-se que para atingir essa chamada universalização seriam necessários investimentos de R$ 400 bilhões. Hoje, alguns estudiosos do setor calculam que serão necessários em torno de R$ 700 bilhões. Ainda assim, dizem eles, em ambiente jurídico seguro – em que pesem alguns aspectos do Marco Legal serem questionados – o setor tem potencial para atrair inversões privadas dessa magnitude.
Contudo, por deficiência de gestão muitas cidades poderão ficar fora do foco dos investidores privados.
É o que aponta levantamento recente do Instituto Trata Brasil ao analisar o cumprimento de decreto federal que deu prazo até 31 de dezembro de 2021 para que municípios, cujos sistemas de saneamento são geridos por companhias estaduais, comprovassem capacidade econômica e financeira para atingir as metas de universalização.
Das 3,9 mil cidades alcançadas pelo decreto, nada menos 1,1 mil não atenderam à requisição, o que significa que quase trinta milhões de brasileiros vivem em municípios que não têm planos para melhorar a oferta de água e de esgoto.
Circunstâncias como essa podem dificultar o avanço rumo à universalização prevista para 2033. Contudo, a segurança jurídica propiciada pelo Novo Marco Legal do Saneamento Básico permitiu que em dois anos fossem contratados R$ 76,2 bilhões, em outorgas e investimentos previstos, segundo a associação que representa as concessionárias do setor.
Embora com a ressalva de que investimento contratado demanda tempo para ser efetivado e para resultar em benefício da população, esse montante carreado para o setor sinaliza passos animadores.
Mais ainda quando estudos apontam que a universalização do saneamento básico no Brasil geraria uma economia anual de R$ 1,4 bilhão em gastos na área de saúde.
*Iran Coelho das Neves é Presidente do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul.
Os comentários abaixo são opiniões de leitores e não representam a opinião deste veículo.
Leia Também
Leia Mais
Prazo para regularização dos títulos de aforamento do Cemitério termina em agosto
Leia Mais
Presidente Carlão recebe representantes da Câmara de Sinop/MT que vieram conhecer Plano de Aplicação de Recursos do FIS
Leia Mais
Tecnologia LiDAR confirma existência da “Cidade Perdida” na Amazônia Brasileira
Leia Mais
Palco de belezas naturais, Sonora vira cenário do motocross no fim de semana
Municípios