Campo Grande (MS), Segunda-feira, 24 de Novembro de 2025

Política Internacional

Brasil desafia Trump e vence disputa diplomática

Pressão dos EUA não impediu prisão de Bolsonaro, e recuo da Casa Branca evidencia limites da influência norte-americana

24/11/2025

20:00

The New York Times

Jack Nicas

©DIVULGAÇÃO

A tentativa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de intervir no processo judicial do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro terminou em fracasso. Após meses de pressões, tarifas e sanções adotadas por Washington em defesa do aliado, Bolsonaro está preso, e Trump retirou parte das medidas econômicas impostas ao Brasil, sinalizando uma mudança de postura.

A reportagem do The New York Times destaca que, em julho, Trump havia enviado uma carta agressiva ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, exigindo que o governo brasileiro abandonasse as acusações de tentativa de golpe que recaem sobre Bolsonaro. Como forma de pressão, impôs tarifas de 50% sobre produtos brasileiros e sancionou um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Contudo, o plano não surtiu efeito.

Tentativa de influência ignorada pelo Brasil

Os esforços de Trump foram considerados uma intervenção inédita na política interna de um país aliado. Ainda assim, as instituições brasileiras resistiram e deram prosseguimento ao processo. Em novembro, Bolsonaro — condenado a 27 anos de prisão por envolvimento na trama golpista — foi preso após danificar a tornozeleira eletrônica, o que levou o ministro Alexandre de Moraes a decretar prisão preventiva sob risco de fuga.

Diante do insucesso, Trump mudou o tom. Ao ser questionado sobre a prisão de Bolsonaro, limitou-se a dizer: “Isso é uma pena.”

Reaproximação com Lula

O recuo ficou evidente após encontro cordial entre Trump e Lula. Em poucos meses, o republicano passou de crítico ferrenho do governo brasileiro a defensor de um diálogo estratégico. Na ONU, chegou a elogiar Lula, dizendo ter tido “ótima química” com o brasileiro.

Logo depois, Trump revogou as tarifas mais significativas impostas ao Brasil, incluindo as que atingiam carne bovina e café, justificando “avanços” nas negociações. Os preços desses produtos vinham pressionando o mercado americano.

Analistas veem efeito inverso ao pretendido por Washington

Especialistas brasileiros e estrangeiros avaliam que a interferência de Trump pode ter agravado a condição judicial de Bolsonaro. A pressão externa teria reforçado a necessidade de afirmação da soberania e independência do Judiciário brasileiro, contribuindo inclusive para a severidade da pena aplicada.

Além disso, o filho de Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, agora enfrenta investigações por ter atuado diretamente na articulação com a Casa Branca contra decisões do STF.

Bolsonaro, Trump e os diferentes destinos pós-derrota eleitoral

A reportagem ressalta o contraste entre as trajetórias de Trump e Bolsonaro. Ambos rejeitaram o resultado das urnas em seus países. Enquanto o norte-americano segue como figura dominante em seu partido e candidato presidencial, Bolsonaro enfrenta desfechos jurídicos devastadores.

Bolsonaro está detido após tentativa de violação da tornozeleira com um ferro de solda, fato confirmado em vídeo anexado aos autos. Moraes justificou a prisão citando o risco de fuga — especialmente por Bolsonaro morar próximo à Embaixada dos EUA em Brasília.

Tentativa frustrada de retaliação e novos acordos

Após a condenação, autoridades americanas chegaram a prometer represálias contra o Brasil, mas o plano não avançou. Em vez disso, a Casa Branca passou a negociar com o governo Lula assuntos estratégicos, incluindo minérios críticos e terras raras, de interesse direto dos EUA.

As sanções contra Alexandre de Moraes permanecem ativas, reflexo das tensões causadas pela sua atuação considerada rigorosa e, por algumas análises, controversa. O magistrado continua sendo figura central no enfrentamento ao golpismo.

“Somos um país soberano”, diz Lula

Questionado sobre as declarações de Trump após a prisão de Bolsonaro, Lula foi direto:

“Trump precisa entender que somos um país soberano.”

A relação entre Brasília e Washington, antes marcada por alinhamento automático durante o governo Bolsonaro, vive agora uma fase de pragmatismo e reajustes diplomáticos — e o episódio evidencia que as pressões externas dos EUA encontraram limites claros diante das instituições brasileiras.


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