Política / Justiça
Ministério Público aponta padrão em esquemas de corrupção em prefeituras de Mato Grosso do Sul
Promotor Humberto Lapa Ferri alerta para modus operandi recorrente e defende endurecimento da legislação contra crimes do colarinho branco
27/10/2025
08:15
CE
DA REDAÇÃO
Promotor do Patrimônio Público, Humberto Lapa
O Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS) identificou um padrão recorrente em esquemas de corrupção que envolvem prefeituras e câmaras municipais em diferentes regiões do Estado. Segundo o promotor de Justiça Humberto Lapa Ferri, titular da Promotoria de Defesa do Patrimônio Público e Social de Campo Grande, há um modus operandi consolidado entre as organizações criminosas que atuam nas administrações municipais, caracterizado pela indicação de pessoas descompromissadas ao dinheiro público para cargos estratégicos e pela criação de empresas voltadas exclusivamente à fraude de licitações e desvios de verbas.
“O primeiro padrão é colocar pessoas descompromissadas com o dinheiro público em cargos-chave, sejam gestores, secretários ou diretores, principalmente ligados à área de licitações. Depois, escolhem empresas montadas apenas para desviar dinheiro público”, explicou o promotor ao Correio do Estado.
De janeiro até agora, dez prefeituras — Miranda, Bonito, Itaporã, Água Clara, Rochedo, Três Lagoas, Coxim, Sidrolândia, Nioaque e Terenos — e uma Câmara Municipal, a de Aquidauana, foram alvos de operações do MPMS por suspeitas de corrupção e fraude em licitações.
Segundo o promotor, as fraudes costumam seguir a mesma lógica: servidores estratégicos fornecem informações privilegiadas a empresários beneficiados em licitações combinadas.
Um exemplo recente é a Operação Fake Cloud, deflagrada pelo Grupo Especial de Combate à Corrupção (Gecoc) em Itaporã, que desvendou um esquema de contratações ilícitas na área de tecnologia. Entre os presos estão Nilson dos Santos Pedroso, ex-superintendente de Compras e Aquisições Governamentais, e George Willian de Oliveira, dono da empresa Citiz Tecnologia, contratada de forma irregular.
Menos de 24 horas após a operação, Nilson Pedroso foi exonerado da Prefeitura de Corumbá, onde atuava desde janeiro.
“Essas empresas aparecem em mais de um caso de operação, o que mostra que foram criadas para enriquecer ilicitamente seus donos e servidores coniventes”, pontuou Lapa Ferri.
O promotor destacou que o sistema de justiça e a legislação brasileira ainda são brandos com o chamado crime do colarinho branco — práticas financeiras ilícitas cometidas por pessoas de alto escalão.
“O controle nas gestões municipais ainda é fraco, suscetível à ação de quem ocupa cargos-chave. Isso permite o direcionamento de licitações, superfaturamento e ausência de fiscalização dos serviços prestados”, afirmou.
Para Lapa Ferri, a corrupção deveria ser classificada como crime hediondo, dada a gravidade social de desviar recursos destinados a saúde, educação e infraestrutura.
“O cidadão deveria se indignar ao saber que o dinheiro que falta em hospitais e escolas está sendo desviado. Dinheiro público não é de ninguém — é de todos”, reforçou.
O promotor também defendeu que as investigações sirvam de alerta para o eleitorado nas eleições de 2026.
“As pessoas pesquisam antes de comprar um carro usado, mas muitas vezes não pesquisam sobre quem vai administrar o dinheiro delas. É preciso votar com mais consciência”, declarou.
As investigações conduzidas pelo Gecoc e pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) já atingiram 11 administrações públicas em Mato Grosso do Sul neste ano.
Na maior delas, em Terenos, o então prefeito Henrique Budke (PSDB) foi afastado do cargo e preso preventivamente por suspeita de lavagem de dinheiro, organização criminosa e fraude em licitações. O esquema, segundo o MPMS, teria desviado cerca de R$ 15 milhões dos cofres públicos.
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