ECONOMIA
Preço cai, mas nem picanha barata faz churrasqueiros aumentarem consumo
Alguns açougues montam kits na tentativa de instimular o cliente a gastar com churrasco
23/02/2024
08:40
CAMPOGRANDENEWS
KAMILA ALCÂNTARA
Açougueiro Deivy Farrera exige um pedaço de picanha, vendida no estabelecimento que ele trabalha por R$74 ©Paulo Francis
O comércio de carnes em Campo Grande está ajudando os churrasqueiros, com queda de preços, mas mesmo assim o consumo não reage, reclamam os empresários do setor. Como não atingiram as expectativas, a alternativa é encontrar estratégias para não perder mercadorias. De acordo com o último IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a alimentação sofreu aumento, mas as carnes foram as menos impactadas, com apenas 0,94%.
Essa equação antes da porteira. O valor da arroba do boi "anda de lado", com preço baixo desde 2023. A partir daí é efeito cascata: a indústria precisa baixar o preço ao repassar para o atacado e varejo. Lá na ponta, tem a "pressão" da queda do consumo. É a lei de oferta e procura.
Especialistas destacam que o setor ainda enfrenta os reflexos da pandemia de covid-19, que influencia no comportamento dos consumidores, como explica a médica veterinária e consultora da Agrifatto*, Laura Rezende. "O contexto ainda é desafiador, com altos índices de desemprego e baixo poder de compra da população. Isso faz com que o brasileiro migre seu consumo para produtos menos onerosos, que é o caso dos cortes de dianteiro, também conhecidos como cortes de segunda", explica.
O Campo Grande News visitou açougues de regiões diferentes da Capital e constatou variação de até 51% nos preços dos cortes de picanha. O local com o valor mais expressivo fica na região do bairro Coronel Antonino, onde o quilo é encontrado a R$ 74. Para que os clientes não deixem de aproveitar o churrasco, esse mesmo estabelecimento disponibiliza porções cortadas e temperadas para facilitar o preparo.
“Nós somos uma casa de carnes, então priorizamos pelo produto de melhor procedência e qualidade. Do começo do ano para cá, notamos queda das carnes de segunda, como a ponta de costela, que custava R$ 42 e agora está R$ 37. O que também tem boa saída são os nossos kits práticos, com frangos temperados, espetinhos, hambúrgueres e almôndegas, para a pessoa que está apressada e precisa agilizar a refeição”, explica a subgerente Letícia Padilha, de 27 anos.
Já na avenida Júlio de Castilho, a casa de carnes de frios onde Edmar Lima é gerente, os preços seguem em queda, as propagandas com carros de som nas ruas, mas a compra acompanha o comportamento de baixa. Por lá, a picanha pode ser comprada por R$58,99, mas em dias especiais chega a R$ 49.
“Caiu bastante o preço, mas o consumo também acompanhou a queda. Abaixamos o preço final, mas não vende o esperado. Sempre que abaixa a carne, a expectativa é subir a venda, mas não está sendo assim. Com isso, trabalhamos com divulgação ativa, com carro de som e o que for preciso para chamar atenção da vizinhança”, compartilha o gerente.
Evanir Martins, 46 anos, mora no bairro Tijuca e aproveita o caminho do trabalho para comprar carnes ali no Júlio. Ela está satisfeita com os preços baixos, que possibilitam a mudança no cardápio doméstico. “Eu costumo comprar coxão duro ou patinho e a diferença está sendo pouco de um lugar para outro. Agora estamos consumindo mais carne vermelha, porque deu uma baixada boa, antes estávamos só no frango”, diz com sorriso no rosto.
Responsável pelas compras de bois inteiros em um supermercado na avenida Manoel da Costa Lima, Nathália Duarte, 27 anos, diz que a saída dos cortes populares é constante, mas os de primeira acabam sendo comercializados para restaurantes. Lá, os consumidores encontram picanha por R$ 49 e filé-mignon a R$ 52.
“Os cortes de carne saem bem, só o filé e a picanha que empacam aí a gente abaixa mais o preço e mandamos para venda nos restaurantes. É uma alternativa de não perder o produto”, destaca.
Valores atualizados - a consultora Laura Rezende confirma que o preço do boi abaixou e, com ele, também a carne para o consumidor final. Não na mesma proporção, enquanto o boi caiu 12,5%, no comparativo janeiro de 2023 e 2024, a carne no varejo caiu 7,4%, com um preço médio no último mês de R$ 41/kg.
"Apesar dessa queda, dado a conjuntura econômica brasileira, esse valor ainda é inacessível ou pouco acessível para grande parte da população brasileira. Além disso, as segundas quinzenas do mês, historicamente, já apresentam queda na procura pelas carnes de maior valor agregado, devido a perda do poder de compra da população pela aproximação do fim do mês", concluiu.
*Agrifatto é uma casa de análises de investimento em ativos agropecuários.
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